domingo, 28 de janeiro de 2018

Pirapora, a mais poderosa estação de energia solar da América Latina

Usina Solar Pirapora 

Localizada no estado brasileiro de Minas Gerais, entrou em operação duas das três fases do projeto solar fotovoltaico Pirapora com potência acumulada de 284 MWp.

No total, a produção do complexo solar mais poderoso da América Latina, de quase 400 MWp, fornecerá eletricidade para 420 mil famílias no Brasil a cada ano.

O projeto beneficia de contratos de vendas de eletricidade de 20 anos (PPA), concedidos em 2014 e 2015 no contexto de um leilão de reserva federal, para a CCEE (Câmara de Marketing Eletrônico). .

A EDF Energies Nouvelles possui 80% das ações do complexo solar da Pirapora, sendo que os 20% restantes são detidas pela Canadian Solar Inc. (CSI), uma das principais empresas de energia solar do mundo, que fabrica localmente os 1.235.070 painéis solares do complexo.

Os módulos são instalados em estruturas de rastreamento para um eixo horizontal, para otimizar a eficiência da instalação.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) liberou as operações comerciais de quatro usinas solares fotovoltaicas em Pirapora (MG). O despacho com o anúncio foi publicado, no Diário Oficial da União.

Foram liberados 61,9 Megawatts (MW) dos quatro empreendimentos (Pirapora 5, 7, 9 e 10) que estão sendo construídos pela EDF Energies Nouvelles, em sociedade com a fabricante de equipamentos Canadian Solar. Eles foram contratados no 7° Leilão para Contratação de Energia de Reserva, promovido em 2015.
Complexo solar é o primeiro de grande porte a iniciar a operação comercial na região Sudeste. Quando concluído, terá capacidade instalada com 120 MW de potência – o que equivale ao atendimento a 190 mil residências.

O comissionamento completo da Pirapora está previsto para o segundo semestre de 2018.

Fonte: EDF Energies Nouvelles/Diário Oficial da União.

Arivaldo Bispo

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Brasil pode se tornar o primeiro país do mundo a cobrar royalties do vento



O aumento da produção de energia elétrica pode fazer com que o Brasil se torne o primeiro país a cobrar royalties do vento e isso já está recebendo críticas.

A mais importante fonte de energia do Brasil sempre foi a mais barata e competitiva de todas. Isso até semana passada. Pela primeira vez na história dos leilões de energia, a água foi ultrapassada pelo vento. O preço da energia eólica ficou mais barato em comparação com o das três últimas grandes hidrelétricas construídas no país. Ficou também bem mais em conta que o preço médio de todas as hidrelétricas contratadas desde o início dos leilões de energia, há 12 anos.

O preço da energia solar também despencou (R$ 145,68 = mwh) e ficou menor até que o das termelétricas a gás. A boa notícia é que tudo isso ajuda o consumidor. "Se não fosse a energia eólica, o consumidor brasileiro estaria pagando mais caro pela energia neste momento", afirma Elbia Gannoum, presidente da ABEÓLICA.

O vento é a fonte de energia que mais cresceu no Brasil nos últimos cinco anos. Já são 503 parques eólicos instalados e 2017 foi um ano em que recordes importantes foram quebrados: por alguns dias, a energia eólica chegou a abastecer mais de 12% de todo o Brasil. Na região Nordeste, passou dos 60%.

São números tão impressionantes que já há no Congresso Nacional um movimento que defende a cobrança de royalties do vento. Pela proposta de emenda constitucional, o vento é um recurso que pertence a todo o povo brasileiro e é justo que os benefícios econômicos dessa atividade sejam compartilhados. O texto também afirma que as fazendas eólicas ocupam vastas áreas que limitam a realização de outras atividades econômicas, como o turismo.

Autor da proposta, o deputado Heráclito Fortes, do PSB do Piauí, quer estender a cobrança dos royalties para a energia solar: “Não é justo que nós tenhamos esse potencial de produção, não só de eólica como de solar, e não se usufrua nada. Você desvia a finalidade da terra. São áreas que poderão ser usadas para agricultura ou para outros fins”.

Para o ex-presidente da empresa de pesquisa energética a cobrança de royalties e professor do COPPE, Maurício Tolmasquim, é um retrocesso: “Não tem lógica nenhuma essa proposta de cobrar royalties da energia eólica. A energia eólica é uma fonte renovável, não poluidora, que tem aumentado a renda de regiões pobres do Nordeste onde pequenos proprietários estão podendo aumentar um pouco a sua renda, e que trouxe várias fábricas de equipamentos que se instalaram no Nordeste, criaram empregos e ainda estão trazendo receita para o governo”.

Quando o assunto é energia limpa e renovável, o vento continua soprando a favor. Até quando, ninguém sabe.


Arivaldo Bispo

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018


REVISTA EXAME

O empresário que fez fortuna com a força do vento
O empresário Mário Araripe, ex-dono da Troller, entrou quase por acaso no mercado de energia eólica e tornou-se um dos principais nomes do setor
Por Ana Luiza Daltro



São Paulo — Na pequena turma de alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) — um dos principais centros de excelência em ensino de engenharia do país — formados em 1977, todos estavam familiarizados com turbinas de aviões.

Um dos engenheiros diplomados naquele ano, Mário Araripe, faria décadas depois fortuna com um tipo de turbina que ninguém imaginava ser necessária num Brasil que, então, só pensava em energia hidrelétrica — as turbinas eólicas, as que transformam a força dos ventos em eletricidade.

Hoje com 61 anos, Araripe é dono da Casa dos Ventos, empresa que chamou recentemente a atenção ao vender, por 2 bilhões de reais, duas usinas eólicas à companhia inglesa de energias renováveis Cubico. Embora tenha sido a maior transação da história do setor no Brasil, aquela não foi a primeira grande tacada de Araripe nesse ramo. E nem deve ser a última, ao que tudo indica.

Afinal, mais do que produzir energia elétrica, a Casa dos Ventos, fundada em 2007, especializou-se em desenvolver projetos de usinas eólicas — e vender o empreendimento quando surge uma boa oportuni­dade de negócio. Depois de vender duas usinas à Cubico, a Casa dos Ventos tem agora três parques próprios, todos ainda em construção, com capacidade de 705 megawatts.

Além disso, tem participação acionária em outras usinas que somam 657 megawatts. Ao longo de quase dez anos, já vendeu usinas em diferentes estágios de implantação. Resumindo: de todos os negócios que colocou em pé até hoje, a Casa dos Ventos já se desfez de mais de 70%.

E não foi pouca coisa — ao todo, a empresa participou do desenvolvimento de um terço dos parques eólicos atualmente em operação ou em construção no Brasil. Apesar do papel de destaque que ocupa no setor, é curioso notar que Araripe entrou nesse negócio quase por acaso. Depois de se formar no ITA, ele foi trabalhar em uma empresa da família de seu sogro, a Têxtil Bezerra de Menezes, em 1980.

Saiu um ano depois para montar o próprio negócio, a construtora Colmeia, que venderia em 1994. Por essa época, o empresário adquiriu duas companhias têxteis, nas quais detém participação até hoje. Empreendedor serial que foi enriquecendo aos poucos, Araripe ganhou notoriedade em 1997, quando comprou a fabricante de veículos utilitários Troller, que estava quebrada.

Ele reergueu a montadora cearense, chamando a atenção da americana Ford. Em 2006, Araripe vendeu a Troller para a Ford por estimados 700 milhões de reais, em valores atuais. De posse dessa fortuna, resolveu se arriscar mais uma vez em um novo negócio. Foi aí que entrou o acaso. Por sugestão de um ex-colega de turma no ITA, Odilon Camargo, o empresário passou a analisar com interesse o setor eólico.

Camargo foi responsável pelo primeiro grande levantamento sobre o potencial eólico do Brasil, elaborado para o Ministério de Minas e Energia, e se tornaria o principal consultor de Araripe no desenvolvimento do novo negócio. Nascia assim a Casa dos Ventos.

“A importância que Camargo tem no sucesso da Casa dos Ventos precisa ser destacada. Ele é simplesmente o maior especialista em energia eólica do Brasil”, diz um ex-executivo de uma das principais fornecedoras da empresa. Seu braço direito na Casa dos Ventos é o filho Lucas, um administrador formado na escola de negócios Insper e responsável pela área de desenvolvimento de projetos da empresa. 

Virna, psicóloga com MBA na Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, está à frente da área de suprimentos. A caçula, Lara, trabalha no departamento responsável pela pesquisa das localidades que vão abrigar novos parques eólicos. Araripe tem mais um filho, Tasso, o único que não trabalha com o pai. Nos últimos anos, o mercado de energia eólica se tornou disputado.

Endesa, Renova Energia, Iberdrola Renovables, EDP e Duke Energy estão entre as gigantes que se instalaram no Brasil. Araripe, que chegou antes dessa turma toda, conseguiu dar tacadas certeiras porque investe muito dinheiro para encontrar lugares onde, de fato, venta de verdade. Para isso, construiu uma fábrica de torres de medição e distribuiu mais de 500 delas pelo país.

As torres fazem anos de medições e, só depois disso, Araripe decide onde vai investir. Embora os agentes reguladores do governo exijam que os estudos de viabilidade de um parque eólico incluam a construção de uma torre de medição num raio de 10 quilômetros, a Casa dos Ventos adota a proporção de uma torre a cada 3 quilômetros.

Isso, é claro, aumenta os custos do projeto (cada torre custa em torno de 300 000 reais), mas diminui o risco de instalar usinas em lugares onde o vento não vai soprar forte e de modo constante. “O vento é mais previsível do que parece, mas é preciso realizar muitos estudos para reduzir os riscos do negócio”, diz Araripe. Mas o que realmente pesou a favor foi o crescimento da energia eólica no Brasil.

Quando Araripe investiu no setor, essa fonte representava apenas 0,2% da matriz elétrica brasileira. Dois anos depois do nascimento da Casa dos Ventos, o governo promoveu o primeiro leilão de comercialização exclusivamente para a energia eólica. A iniciativa foi um sucesso e abriu caminho para novos leilões nos anos seguintes.

Hoje, a fonte eólica representa 6% da energia elétrica gerada no Brasil e, em poucos anos, a fatia deve aumentar para 10%. Com o aumento da escala de produção, os preços da eletricidade gerada pela força dos ventos caiu e ela se tornou mais competitiva com a energia de fonte hidrelétrica — que, por sua vez, enfrenta cada vez mais restrições no campo ambiental.

O avanço possibilitou a vinda ao país de diversos fornecedores de equipamentos, os quais estabeleceram uma cadeia de produção local para cumprir o esdrúxulo índice de 60% de conteúdo local exigido pelo BNDES — o banco estatal financia até 70% dos valores de cada projeto eólico. 

A combinação de vantagens tem feito da construção de parques eólicos um investimento atraente. Mas o negócio tem seus perrengues. Um deles vem do fato de que os parques costumam ser afastados dos centros urbanos, exigindo linhas de transmissão longas.

A licitação das linhas depende do governo e, como se sabe, depender do governo é sempre um perigo — linhões têm atrasado a ponto de haver usinas prontas sem condições de entregar a energia aos consumidores. Para Araripe, até agora, tudo deu certo: o vento, afinal, só soprou aqui.



Fonte: REVISTA EXAME