Os problemas financeiros da Impsa deixaram os desenvolvedores de parques eólicos em busca de novos fornecedores de aerogeradores somando 1,2GW, e, por enquanto, os primeiros beneficiários foram a Gamesa e a WEG que fecharam contratos para fornecer aerogeradores para a Eletrosul.
Na semana passada, a Chesf entrou na lista após rescindir o contrato com a combalida empresa argentina e busca novos fornecedores de máquinas para o complexo eólico Casa Nova de 180MW, na Bahia.
Segundo a estatal, o contrato foi rompido unilateralmente e agora busca novos fornecedores que possam entregar máquinas o mais rapidamente possível. O início de suprimento está previsto para setembro deste ano, segundo a Aneel.
A fábrica de aerogeradores da WPE – a unidade da Impsa que fabrica os equipamentos – em Pernambuco está parada desde meados de 2014, com os empregados em férias coletivas.
Incluindo as turbinas - somando 219MW - que teriam que ser entregues para a Energimp – empresa do grupo Impsa que desenvolve e opera ativos de geração -, a Chesf, a Eletrosul, Furnas – e seus vários parceiros – e a portuguesas Tecneira – com um parque de 30MW - foram afetadas.
Fontes indicam que a Wobben Wind Power já foi sondada e a Bloomberg noticiou que uma fornecedora chinesa teria sido contatado, mas as empresas não confirmaram.
Segundo dados da Recharge, Furnas e seus parceiros necessitam concluir a construção de 245MW até setembro deste ano e mais 561MW até 2018. A estatal informou que está em contato com fabricantes nacionais e estrangeiros, pontuando que se o fornecedor for estrangeiro ele terá que ter uma fábrica no Brasil para cumprir com os requisitos de conteúdo local do BNDES.
A única fabricante nacional, a WEG, já fechou contrato com a Eletorsul em dezembro passado para fornecer turbinas de 2,1MW para o parque Ibirapuitã I de 24MW.
Em 2014, a Eletrosul já tinha anunciado a espanhola Gamesa como fornecedora para outros seis parques somando 144MW.
Segundo a estatal, as máquinas da WEG e da Gamesa já estão sendo montadas.
As consequências não serão fáceis para a Impsa, já que a Eletrosul e a Rio Bravo – parceira em dois dos parques afetados – estão processando a empresa.
Para piorar, a Eletrosul provavelmente escolherá novos fornecedores para as oito torres com turbinas da Impsa que colapsaram em quatro parques durante uma tempestade, com ventos 250km/h, no dia 20 de dezembro de 2014. As investigações ainda estão em curso para apurar as causas do acidente.
A metalúrgica Impsa – que vem se restruturando nos últimos anos e agora é controlada pela offshore Ventis – concentrou a fabricação de aerogeradores de 1,5MW e 2MW no Brasil, exportando para outros países, inclusive para o Chile e para o Uruguai entre outros.
A fábrica no porto de Suape, que é a única de aerogeradores em Pernambuco, está parada, informa o Sindicado dos Metalúrgicos (Sindmetal).
“A empresa deu férias coletivas desde o início do segundo semestre de 2014 porque não tinham mais pedidos”, disse José Cavalcanti, secretário financeiro do sindicato.
Segundo o sindicalista, os 300 funcionários entraram com pedido de demissão indireta para garantir seus diretos trabalhistas e já estão buscando novos empregos.
“Alguns já estão trabalhando na fábrica da Fiat”, explicou Cavalcanti. “Mas o sindicado não se reúne com a empresa desde de meados novembro”.
Fornecedores de componentes como a espanhola Gestamp e a dinamarquesa LM Wind já focaram em outros clientes.
A LM, por exemplo, que fornecia as pás para as turbinas da Impsa, disse à Recharge que desde meados de 2014 vem focando em desenvolver outros clientes globais atuando no Brasil.
A Impsa apostou pesado no setor eólico brasileiro, inclusive com apoio de instituições financeiras federais como Finep e o BNDES, e investiu em uma linha de montagem de naceles, num centro de pesquisa – inclusive com uma turbina teste de 2MW -, uma fábrica de torres e, em 2012, chegou a anunciar uma segunda fábrica de aerogeradores no sul.
Mas a empresa vem enfrentando dificuldades financeiras por três principais razões: falta de pagamento de PPAs da Eletrobras para 222MW de parques do Proinfa em Santa Catarina; atrasos em pagamentos de projetos hidrelétricos na Venezuela e falta de demanda no seu país sede, a Argentina.
O resultado foi o não pagamento, no ano passado, de obrigações em pesos argentinos e em dólares americanos e a decretação de falência da WPE no Brasil.
Segundo analistas, o aperto de caixa ficou claro no primeiro trimestre de 2014, quando os balanços da empresa mostravam uma dívida de US$1 bilhão, com US$300 milhões vencendo no curto prazo, e um caixa de apenas US$50 milhões.
A Impsa chegou a anunciar a venda ativos de geração no Brasil para fazer caixa, e já vendeu cinco parques em construção somando 150MW para a Casa dos Ventos. A Energimp tem 16 parques em operação com um total de 405MW e um de 28.8MW em parceria com a Cemig.
Mesmo assim os problemas continuam.
Na Argentina, os mais de mil trabalhadores da empresa protestam quase que diariamente e os controladores da empresas estão em negociações com o governo de Mendoza, onde fica a sede da empresa, e com o governo nacional para buscar uma saída.
Relatos na imprensa argentina indicam que o governo nacional pode até adquirir uma participação na empresa.
A Impsa não deu retorno à reportagem da Recharge.
Arivaldo Bispo