terça-feira, 19 de julho de 2016

Gamesa e WEG ocupam espaço deixado pela Impsa



Os problemas financeiros da Impsa deixaram os desenvolvedores de parques eólicos em busca de novos fornecedores de aerogeradores somando 1,2GW, e, por enquanto, os primeiros beneficiários foram a Gamesa e a WEG que fecharam contratos para fornecer aerogeradores para a Eletrosul.
Na semana passada, a Chesf entrou na lista após rescindir o contrato com a combalida empresa argentina e busca novos fornecedores de máquinas para o complexo eólico Casa Nova de 180MW, na Bahia.

Segundo a estatal, o contrato foi rompido unilateralmente e agora busca novos fornecedores que possam entregar máquinas o mais rapidamente possível. O início de suprimento está previsto para setembro deste ano, segundo a Aneel.

A fábrica de aerogeradores da WPE – a unidade da Impsa que fabrica os equipamentos – em Pernambuco está parada desde meados de 2014, com os empregados em férias coletivas.

Incluindo as turbinas - somando 219MW - que teriam que ser entregues para a Energimp – empresa do grupo Impsa que desenvolve e opera ativos de geração -, a Chesf, a Eletrosul, Furnas – e seus vários parceiros – e a portuguesas Tecneira – com um parque de 30MW - foram afetadas.

Fontes indicam que a Wobben Wind Power já foi sondada e a Bloomberg noticiou que uma fornecedora chinesa teria sido contatado, mas as empresas não confirmaram.

Segundo dados da Recharge, Furnas e seus parceiros necessitam concluir a construção de 245MW até setembro deste ano e mais 561MW até 2018. A estatal informou que está em contato com fabricantes nacionais e estrangeiros, pontuando que se o fornecedor for estrangeiro ele terá que ter uma fábrica no Brasil para cumprir com os requisitos de conteúdo local do BNDES.

A única fabricante nacional, a WEG, já fechou contrato com a Eletorsul em dezembro passado para fornecer turbinas de 2,1MW para o parque Ibirapuitã I de 24MW.

Em 2014, a Eletrosul já tinha anunciado a espanhola Gamesa como fornecedora para outros seis parques somando 144MW.

Segundo a estatal, as máquinas da WEG e da Gamesa já estão sendo montadas.

As consequências não serão fáceis para a Impsa, já que a Eletrosul e a Rio Bravo – parceira em dois dos parques afetados – estão processando a empresa.

Para piorar, a Eletrosul provavelmente escolherá novos fornecedores para as oito torres com turbinas da Impsa que colapsaram em quatro parques durante uma tempestade, com ventos 250km/h, no dia 20 de dezembro de 2014. As investigações ainda estão em curso para apurar as causas do acidente.

A metalúrgica Impsa – que vem se restruturando nos últimos anos e agora é controlada pela offshore Ventis – concentrou a fabricação de aerogeradores de 1,5MW e 2MW no Brasil, exportando para outros países, inclusive para o Chile e para o Uruguai entre outros.

A fábrica no porto de Suape, que é a única de aerogeradores em Pernambuco, está parada, informa o Sindicado dos Metalúrgicos (Sindmetal).

“A empresa deu férias coletivas desde o início do segundo semestre de 2014 porque não tinham mais pedidos”, disse José Cavalcanti, secretário financeiro do sindicato.

Segundo o sindicalista, os 300 funcionários entraram com pedido de demissão indireta para garantir seus diretos trabalhistas e já estão buscando novos empregos.

“Alguns já estão trabalhando na fábrica da Fiat”, explicou Cavalcanti. “Mas o sindicado não se reúne com a empresa desde de meados novembro”.

Fornecedores de componentes como a espanhola Gestamp e a dinamarquesa LM Wind já focaram em outros clientes.

A LM, por exemplo, que fornecia as pás para as turbinas da Impsa, disse à Recharge que desde meados de 2014 vem focando em desenvolver outros clientes globais atuando no Brasil.

A Impsa apostou pesado no setor eólico brasileiro, inclusive com apoio de instituições financeiras federais como Finep e o BNDES, e investiu em uma linha de montagem de naceles, num centro de pesquisa – inclusive com uma turbina teste de 2MW -, uma fábrica de torres e, em 2012, chegou a anunciar uma segunda fábrica de aerogeradores no sul.

Mas a empresa vem enfrentando dificuldades financeiras por três principais razões: falta de pagamento de PPAs da Eletrobras para 222MW de parques do Proinfa em Santa Catarina; atrasos em pagamentos de projetos hidrelétricos na Venezuela e falta de demanda no seu país sede, a Argentina.

O resultado foi o não pagamento, no ano passado, de obrigações em pesos argentinos e em dólares americanos e a decretação de falência da WPE no Brasil.

Segundo analistas, o aperto de caixa ficou claro no primeiro trimestre de 2014, quando os balanços da empresa mostravam uma dívida de US$1 bilhão, com US$300 milhões vencendo no curto prazo,  e um caixa de apenas US$50 milhões.

A Impsa chegou a anunciar a venda ativos de geração no Brasil para fazer caixa, e já vendeu cinco parques em construção somando 150MW para a Casa dos Ventos. A Energimp tem 16 parques em operação com um total de 405MW e um de 28.8MW em parceria com a Cemig.

Mesmo assim os problemas continuam.

Na Argentina, os mais de mil trabalhadores da empresa protestam quase que diariamente e os controladores da empresas estão em negociações com o governo de Mendoza, onde fica a sede da empresa, e com o governo nacional para buscar uma saída.

Relatos na imprensa argentina indicam que o governo nacional pode até adquirir uma participação na empresa.

A Impsa não deu retorno à reportagem da Recharge.


Arivaldo Bispo

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